Pode história toda hora? Pode. Podcast!

Já fui coluna em jornal, já fui blog, já fui vídeo no Youtube e agora o Toda Hora Tem História é também um Podcast!

A partir do dia 26 de janeiro, sempre às terças-feiras, teremos um novo episódio disponível nas principais plataformas digitais com histórias para crianças de todas as idades.

Na primeira temporada, que lançaremos na próxima terça, vamos iniciar uma viagem pelo incrível mundo dos “Bichos que falam e criaturas misteriosas”.

Preparem os fones e caixinhas de som!

O Podcast Toda Hora Tem História é um projeto aprovado pela lei federal Aldir Blanc e financiada pelo Fundo Municipal de Cultura de Santo André. 

Por que contamos e recontamos histórias?

Há uma história muito, mas muito antiga que conta a saga de um príncipe para recuperar sua jovem e bela esposa que fora sequestrada por um rei maquiavélico.

Após o rapto, o maligno rei, que possuía asas e chifres como um demônio, levou a princesa para viver em seu palácio numa ilha perdida no meio do oceano, onde o príncipe jamais a alcançaria. Durante os dias seguintes, o rei molestador esteve diante da princesa com toda generosidade e delicadeza a fim de convencê-la a se tornar sua legítima esposa, mas a jovem só repetia palavras de fé em seu propósito de amar o príncipe de quem fora separada.

Passados muitos dias sem solução para a maldade feita ao casal, ao príncipe foi sugerido pedir auxílio para um poderoso monarca encantado, dono de poderes míticos e cujo corpo andrógino era de homem-macaco. Foi este monarca quem resolveu o drama. Depois de unir as mãos no centro do seu peito, agachar com suas pernas fortes e saltar sobre as águas, num único voo, alcançou a ilha, liquidou o rei diabólico e resgatou a princesa.

Toda sorte de coisa se passa nessa história de mais de quatro mil anos que eu brevemente (re)conto aqui. No final, quando o príncipe se vê diante de sua amada esposa, os deuses concedem ao monarca homem-macaco a realização de um desejo. E o que ele pede? Fé constante e confiança inabalável.

Revisitando a história, em busca de um significado puro para o amor que une o príncipe e a princesa, tomamos consciência que as grandes batalhas acontecem dentro de nós. Somos protagonistas e antagonistas das nossas demandas, usamos vestes de príncipe justo e imolado, mas também chifres de diabo; por vezes, lágrimas de sequestrado; em outras, coragem de bicho…

Talvez seja por isso que devemos preservar o ato de contar histórias, para nos auxiliar na reconstrução dos passos que damos pelo caminho da vida, para poder retornar ao começo e perceber o que antes passou despercebido, compreender nossas emoções, estabelecer em si mais força, mais altivez, a renovação da fé para continuar na estrada.

A narração de histórias encerra em si dois elementos essenciais para nossa possível humanidade: o primeiro deles é a própria escuta de sons, quer pelos ouvidos, quer pela vibração que vivifica a matéria no mundo, comprovando a mutabilidade inerente à vida; o segundo elemento é a busca da sabedoria pela investigação da razão e do sentimento que se propaga na ação humana.

Contamos histórias que vêm de muitos lugares, milhares delas sobreviveram os tempos que as sucederam, assim como transcenderam o lugar e a cultura em que surgiram por força de alguma espécie de virtude nelas contida.

Pela força que expressa, a história não se limita à figura do narrador; ao contrário, ela estabelece uma relação entre seres humanos. Movimentando sensações individuais, de dentro para fora, a história proporciona ambiente para o diálogo.

– Penélope Martins –

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* Este texto foi publicado no Blog da Letrinhas, na Seção Caraminholas, com  pequena biografia da autora.