o amor é uma coisa simples e suave. simples e suave coisa. suave coisa nenhuma

Leve como leve pluma
Muito leve leve pousa
Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma

Sombra silêncio ou espuma
Nuvem azul que arrefece

Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma
Que em mim amadurece

– ‘Amor’ é  uma composição de João Ricardo e João Apolinario, que foi gravada pelo grupo Secos e Molhados, em 1973.

faz calor na terra do biquini

O nome deriva do atol de Bikini, um lugar no Oceano Pacífico usado para testes com bombas nucleares. Em 1946, foi lançado como novo traje de banho para mulheres, em Paris… A brincadeira do nome ‘bikini’, ou biquini, afirmava que as mulheres, assim vestidas, causariam o mesmo efeito que uma bomba atômica. Brutal!

Mas… bombásticos mesmo eram os trajes de banho antes da invenção do biquini. Convenhamos, tanta proteção de tecido dispensava até o uso de barracas.

Felizmente, vieram os revolucionários da moda para dizer algo além de bermudões folgados, lenços e… meiões? Ai, que eu não queria ir para praia com um visual desses.

Na onda da curtição na praia, ganhamos, também, as loções com filtro solar (para corrigir o espaço descoberto). Tá certo que, bem antes do filtro, tivemos os bronzeadores. A gente nem desconfiava dos raios ultra alguma coisa. A velha guarda lembra da menininha do reclame que desfilava a marca de biquini, né?

No final das contas, fiz este post para dizer que faz um calor imenso no Brasil.

Brasil?

Mas se isso era para o Brasil, melhor revolução seria atacar aos costumes da tradição. Os nossos índios já sabiam muito além do biquini…

a linha e o linho

É a sua vida que eu quero bordar na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse a linha
E a agulha do real nas mãos da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos nosso amor
Os nossos sentimentos loucos, nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A sua vida o meu caminho, nosso amor
Você a linha e eu o linho, nosso amor
Nossa colcha de cama, nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

– Gilberto Gil –

* A Linha e o Linho é inspirado na letra da canção homônima, escrita por Gil para homenagear Flora, ela faz parte do álbum Extra, lançado em 1983. Trata-se de um livro de ilustrações feitas como se fossem bordados, feitas pela bordadeira Marcela Fernandes de Carvalho, que criou oito desenhos para ilustrar cada verso da canção.

Nesta postagem, a fotografia que ilustra a canção é uma reprodução dos famosos lenços dos namorados, criados em Cidades como Viana do Castelo, Portugal. Os lenços integram uma tradição do bordado português.

é mais inteligente o livro ou a sabedoria?

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca

Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de gentileza

Por isso eu pergunto
A você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria

O mundo é uma escola
A vida é o circo
“Amor: palavra que liberta”
Já dizia o profeta

– Marisa Monte, canta o poeta Gentileza –

Desenredo, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro

Por toda terra que passo
Me espanta tudo o que vejo
A morte tece seu fio
De vida feita ao avesso

O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego
Eu me enredo
Nas tranças do teu desejo

O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo

O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso

Mas quando eu chego
Eu me perco
Nas tramas do teu segredo

Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe

A cera da vela queimando
O homem fazendo o seu preço
A morte que a vida anda armando
A vida que a morte anda tendo

O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego
Eu me enrosco
Nas cordas do teu cabelo

Ê, Minas
Ê, Minas
É hora de partir
Eu vou
Vou-me embora pra bem longe

 

 

* a canção Desenredo foi inspirada em conto homônimo, de Guimarães Rosa.

a onça e o bode, conto popular

Um dos contos mais contados da história popular é da onça e do bode (ou seria do bode e da onça?). Muita gente reproduziu em livros essa pequena fábula que conta como a inteligência arma bote para apanhar a força bruta. Se ‘de pensar morreu um burro’, o bode, por sua vez, ficou vivinho matutando!

Divirtam-se!

Penélope Martins

 

 

 

“Caminhando pelo mato, o bode descobriu um bom lugar para fazer uma casa. Capinou o terreno, deixando-o limpinho para dar início à construção. Como já estava cansado, foi embora, preferindo começar no dia seguinte.

A onça também procurava um terreno para erguer sua casa. Deparando com o lugar que o bode capinara, achou que estava com muita sorte. Cortou e empilhou as madeiras para fazer a estrutura. Depois foi embora, pois precisava dormir.

No dia seguinte, ao ver a madeira à sua disposição, o bode ergueu a estrutura. “Que sorte que estou dando!”, pensava ao fim do trabalho, quando já se retirava. Mais tarde foi a vez de a onça chegar ao terreno e ver a estrutura pronta. “Que sortuda que eu sou!”, disse com suas pintas, enquanto cobria a madeira com taipa.

Então, a onça foi buscar seus móveis e, ao voltar, deu de cara com o bode, sentado numa poltroninha, muito à vontade. Os dois não custaram a perceber que haviam dividido o trabalho da construção. Decidiram morar juntos, portanto.

Mas viviam desconfiados um do outro e não lhes faltava uma boa razão para isso. Um dia, a onça voltou da caçada, arrastando um cabrito entre os dentes. O bode, acabrunhado, saiu de fininho para o mato, certo de que, mais dia menos dia, aquele seria o seu destino.

Naquela mesma tarde, porém, o bode encontrou uma onça morta por um caçador e levou-a para casa, deixando seu corpo estendido na porta de entrada. Vendo a companheira morta, a outra onça quis saber do bode como é que ele a tinha matado.

O bode explicou que era dono de um anel mágico. Bastava colocá-lo no dedo e apontar alguém para fulminá-lo. A onça fez que não acreditou e o bode, colocando o anel no indicador, perguntou:

– Quer que eu lhe mostre?

A onça disparou mato adentro, apavorada. Nunca mais voltou. O bode, feliz da vida, ficou vivendo sozinho na sua casa, sem motivo de preocupação, aproveitando-se da fama de mata-onça.” *

 

* conteúdo compartilhado a partir do Portal Educação – Uol.

um salve ao Santo Antônio para quem nossa cultura elege dia festa,

 

“Amei-te como se ama
só uma vez na vida
E no pouco que te amei
Amei-te pela vida inteira. “

– Ana Almeida –

* Ana Almeida é jornalista, escritora e poeta portuguesa. Ana também é nossa colaboradora do link ‘É Giro!’, com publicações do Clube de Leitores, diretamente de Portugal (confira: http://www.blogclubedeleitores.com/2014/06/a-ver-livros-pe-quebrado.html)

acertei no milhar!

dos tempos que malandro andava de terno branco e sapato bicolor, na lapela um cravo vermelho e no bolso uma navalha – só de precaução. não se fazia alarde e na hora do combate era na caixinha de fósforo que o samba desfilava sua elegância.

Etelvina (o que é, Morengueira?)
Acertei no milhar!
Ganhei quinhentos contos (milhas), não vou mais trabalhar
você dê toda roupa velha aos pobres
e a mobília podemos quebrar
(breque)
“Isso é pra já, vamos quebrar. Pam, pam, bum, etc…”
Etelvina vai ter outra lua-de-mel
você vai ser madame
vai morar num grande hotel
eu vou comprar um nome não sei onde
de Marquês Morengueira de Visconde
um professor de francês mon amour
eu vou mudar seu nome pra Madame Pompadour
Até que enfim agora sou feliz
vou passear a Europa toda até Paris
e nossos filhos, oh, que inferno
eu vou pô-los num colégio interno
me telefone pro Mané do armazém
porque não quero ficar devendo nada a ninguém
e vou comprar um avião azul
para percorrer a América do Sul
mas de repente, derrepenguente
Etelvina me acordou está na hora do batente
mas de repente, derrepenguente
– Se acorda, vargulino! Saia pela porta de trás que na frente tem gente.
Foi um sonho, minha gente!

– samba de Geraldo Pereira, interpretação Moreira da Silva –

7 minutos vezes sete. sete mil vezes. eu na sala da minha tia Marlizinha ouvindo Cores e Nomes pirando na letra da canção que dizia coisas sobre a vida ser oca como a toca de um bebê sem cabeça. eu ria a beça. eu tinha pra 9 anos. minha tia dizia que Caê era genial e que eu seria inteligente quando entendesse aquilo tudo que ele falava em suas canções. eu não entendi, mas insisto sem preocupações abusivas. minha tia usava uma pena de pavão como brinco. ela era hippie e eu nem sabia o que era hippie. a gente catava conchas no canal para fazer pulseirinha e tornozeleira. dava um baita trabalho. eu ainda gosto de tornozeleira, mas não tenho nenhuma. tatuei uma pena de pavão no dorso esquerdo. flutuando Krishna, um estado de amor hippie. minha paz é quente.

* Penélope Martins

Sereia do Mar

Conta a lenda que o poderoso guerreiro, vitorioso na guerra pela qual ele havia lutado por uma década, teve grande parte de sua tripulação perdida enquanto atravessava o mar de volta para casa. Os marujos foram dizimados pelo encanto de vozes melodiosas que surgiam entre as ondas e os arrastavam ao fundo, cada vez mais fundo, até se afogarem.

Estrategista de notável saber, o guerreiro recomendou aos homens que se amarrassem aos mastros do navio com toda a força e ainda tampassem seus ouvidos para que o som não os afligisse. Mas isso não era suficiente. O canto das sereias atravessava o coração dos combatentes cansados e, embora estivessem eles atados aos mastros, se debatiam em dor e almejavam encontrar a paz na doçura da canção.

Depois de algum tempo, elas se retiraram entre as ondas. Ulisses conseguiu atravessar o canto do mar e chegar a salvo em sua ilha, mas pode provar em si mesmo que havia mais poder naqueles seres da água do que seus músculos pudessem suportar, do que sua inteligência pudesse imaginar.

* No dia 2 de fevereiro na Bahia, Brasil, acontece a festa de comemoração a Iemanjá, a Rainha do Mar. As pessoas oferecem perfumes e flores para o mar pedindo proteção para a poderosa Mãe d’Água. 

– Herbert Draper, Ulisses e as sereias, 1909 –

O Sapo com Medo D’Água

Dizem que esta foto é uma montagem, porém achei perfeita para o conto de Ana Cascudo.
Dizem que esta foto é uma montagem, porém achei perfeita para o conto de Ana Cascudo.
O sapo é esperto. Uma feita o homem agarrou o sapo e levou-o para os filhos brincarem.
Os meninos judiaram dele muito tempo e, quando se fartaram, resolveram matar o sapo.
Como haviam de fazer?
– Vamos jogar o sapo nos espinhos!
– Espinho não fura meu couro – dizia o sapo
– Vamos queimar o sapo!
– Eu no fogo estou em casa!
– Vamos sacudir ele nas pedras!
– Pedra não mata sapo!
– Vamos furar de faca!
– Faca não me atravessa!
– Vamos botar o sapo dentro da lagoa!
Aí o sapo ficou triste e começou a pedir, com voz de choro:
– Me bote no fogo! Me bote no fogo! N’água eu me afogo! N’água eu me afogo!
– Vamos para a lagoa – Gritaram os meninos.
Foram, pegaram o sapo por uma perna e, t’xim bum, rebolaram lá no meio. O sapo mergulhou, veio em cima d’água, gritando, satisfeito:
– Eu sou bicho d’água! Eu sou bicho d’água!
Por isso quando vemos alguém recusar o que mais gosta, dizemos:
– É sapo com medo d’água…
Contado por Ana da Câmara Cascudo em Natal, Rio Grande do Norte. In: Contos tradicionais do Brasil para jovens de Luís Câmara Cascudo. Global editora.